quarta-feira, 1 de abril de 2009

EXPLOSÃO DE 3ª IDADE!

A terceira idade começou há muito tempo para Héctor Muñoz, mas ninguém diria. Aos 69 anos, Muñoz trabalha como vendedor para uma companhia de produtos de papel em Santiago, Chile. Ele é a única fonte de sustento para a sua família, que inclui sua esposa Eugenia, 61, e sua sogra Maria Josefa, 90. No momento, ele também está sustentando a filha Graciela, 36 anos, divorciada, que perdeu o emprego três anos atrás, com seu filho de 10 anos, Ariel. Outra filha, Noemi, de 38 anos, emigrou para os Estados Unidos, onde trabalha como artista gráfica.
Muñoz é aposentado, ao menos em teoria. Aos 52 anos de idade, após trabalhar 38 anos para a maior companhia de papel do Chile, ele optou por um pacote de aposentadoria antecipada promovido pelo regime de Pinochet, que na época estava no poder. Ele está entre a última geração de chilenos que ainda recebe uma pensão previdenciária paga pelo Estado. Desde então, o Chile adotou um sistema privado de previdência no qual trabalhadores escolhem administradores privados de fundos mútuos para gerenciar as contribuições previdenciárias deduzidas de seus salários.



NA OFICINA: Proprietários de negócios idosos continuam trabalhando para conseguir sobreviver. (Foto: David Mangurian, IDB)

Mas a aposentadoria de Muñoz não difere muito dos seus anos de trabalho. No dia seguinte ao que deixou seu antigo emprego, Muñoz aceitou uma posição de vendas por comissão em uma companhia de papel de menor porte porque, como ele diz, "a pensão não é suficiente para pagarem as nossas contas". Eugenia, que se tornou dona de casa após o nascimento da primeira filha, não recebe nenhuma aposentadoria. E Maria Josefa, que trabalhou para uma companhia têxtil por 30 anos, recebe uma aposentadoria mensal ao redor de R, 00, paga por um sindicato de trabalhadores.
Ainda assim, Muñoz se considera em boa situação. Ele e a esposa são proprietários do apartamento de três quartos no bairro de classe média de Ñuñoa, Santiago, e os dois automóveis que possuem estão pagos. Ele pode arcar com as despesas de um seguro-saúde privado e um serviço de ambulância para emergências. Isto é essencial para Muñoz porque ele é diabético e tem um problema cardíaco crônico. Mas o seguro-saúde não cobre os US$150 de medicamentos que ele necessita tomar mensalmente e cobre apenas parcialmente consultas médicas e despesas de hospital, tais como uma recente angioplastia. Essas despesas e outras realizadas pelos membros da família, retiradas diretamente do orçamento de Muñoz, consomem uma grande parte de seu salário.
Recentemente Muñoz acompanhou a esposa em uma visita à filha que mora nos Estados Unidos, pela primeira vez desde que ela emigrou para o novo país. Foi uma espécie de luxo que eles esperavam poder realizar com uma freqüência muito maior nesta fase de suas vidas.


Bem-vindo ao futuro
Os desafios vividos por Muñoz e sua família (os seus nomes foram modificados para este artigo) não são novos. O que está mudando é a proporção de famílias na América Latina que estão na mesma situação.


A esperança de vida para a mulher é maior do que para o homem. (Foto: Roger Hamilton, IDB)

Trinta anos atrás, a mulher latino-americana tinha, em média, seis filhos e uma expectativa de vida ao redor de 60 anos. Atualmente, tem em média menos de três filhos e poderá viver 70 anos ou mais. A expectativa de vida para homens, apesar de menor do que para mulheres, também avançou consideravelmente. Estas duas mudanças – uma redução de cerca de 50% na taxa de fertilidade e o acréscimo de uma década na expectativa de vida (atingindo uma média de 72 anos para ambos os sexos) – estão produzindo uma mudança demográfica que trará profundas conseqüências para as sociedades da América Latina nos próximos anos.


Estima-se que 7,8% da população da América Latina, ou 42 milhões de pessoas, estão acima dos 60 anos de idade. Em 25 anos, este porcentual será praticamente dobrado, atingindo 14%, ou um total de quase 98 milhões de pessoas. Em alguns países da região, especialmente Uruguai, Argentina, Chile, Costa Rica e Cuba, a porcentagem de adultos na terceira idade irá crescer muito mais rapidamente. O mesmo pode ser dito a respeito das nações do Caribe como um todo. Em 2025, elas terão aproximadamente 7,4 milhões de cidadãos acima da idade de 60 anos, representando um total de 17% da população do Caribe.
Os efeitos desta mudança demográfica têm sido aparentes nos países industrializados há vários anos. Adultos mais velhos têm problemas médicos mais freqüentes e de maior custo que precisam ser pagos em última instância pela sociedade, seja através de esquemas de seguro privado ou serviços públicos subsidiados. Em países que possuem sistemas públicos de previdência e saúde com benefícios definidos, essas despesas adicionais podem gradualmente diminuir o orçamento para outros serviços públicos, gerando déficits e trazendo a necessidade de aumentos de impostos.


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